quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Paradigmas para uma educação do presente?





Edgar Morin em Fortaleza - Ce.  

             Impressionando tanto pelo conhecimento quanto pela simplicidade, Morin começou suas palavras anunciando que falaria num misto de português com espanhol e explicando que usava chapéu por conta do clima. Tossindo e pigarreando muito, ele apresentou durante cerca de uma hora as bases do que considera os sete saberes necessários para a educação do futuro, por ele chamados de “1º- Erro e ilusão”, “2º - O conhecimento pertinente”, “3º - Ensinar a condição humana”, “4º - Identidade terrena”, “5º - Enfrentar as incertezas”, “6º - Ensinar a compreensão” e “7º- Ética do gênero humano”. “Acredito que um dos saberes, que cada vez me parece mais importante, é a compreensão humana. Compreensão em grupo, entre amigos, entre marido e mulher. Está havendo uma degradação nisso”, apontou Morin.

          Mesmo incomodado com o som e com a ausência de um tradutor, o que na maior parte do tempo tornava incompreensível as palavras de Morin, o público acompanhou atento e concentrado cada palavra que ele dizia. “Penso que é possível melhorar a condição humana”, afirmou ele antes de apontar a necessidade de aproveitar o melhor de cada cultura. “A concepção planetária há que conceber a simbiose das culturas. A simbiose do que há de melhor”. E continuou: Quando um sistema não tem mais poder de resolver seus problemas, ele se destrói e nasce um meta-sistema. É quando ocorre uma metamorfose. Acontece na natureza, como na borboleta. A vida é uma regeneração permanente”.
Fonte: Marcos Sampaio -- Jornal O POVO 22/09/2010 02:00 - Grifos meus.

Caros amigos (as), agora me dirijo a nós!

Não podemos nos contentar com apenas essa compreensão (posso está equivocada), de sermos mais humanos, mais justos, mais solidários... etc. ( parece que a gente é pouco ou sei lá). Pois, essa compreensão, com esse "mais", que sempre encontramos nos textos e nos discursos da educação básica, bem como essa suposição de que poderemos criar um meta-sistema, não arranha nem a superfície da realidade que nos cerca, que dirá a de nossos (as) alunos(as)... Cultura é cultura. E não se pode sair pinçando o que é bom daqui e dali e simplesmente fazer uma sopa eclética. Acredito que isso pode ser um tanto quanto perigoso. Concepção planetária é respeito a alteridade daquele que está diante de mim.

Mas...
Um de meus alunos me disse: "Prof., falta muito tempo pra merenda? É que lá em casa não teve almoço". (...)

Que meta-sistema irá responder essa condição humana? Sei que a teoria poderá iluminar a prática. Mas, é necessário desvelar o real. Que real? Melhorar a condição humana?
Essa história de mais isso mais aquilo... poxa, não somos! Estamos sendo a cada dia!

Ser humano é condição ontológica.
Ser solidário, justo etc. Faz parte da nossa humanidade.
Não percamos a Humanidade. 

Eu acredito é na rapaziada, que vai em frente e segura o rojão! Como é que não? (Gonzaguinha)

Um grande e afetuoso abraço.
Vamos lá! 

Professora Luciana.





2 comentários:

  1. Bom dia Luzinha...
    Achei bem colocada a sua questão com relação ao que consideramos ser "melhorar" sermos "mais"...
    Sabemos que muitas de nossas mazelas passam para além de nossa prática em sala de aula. Elas adentram o ambiente familiar e sobretudo na questão social das pessoas. Envolve estruturalmente todos os elementos que compõem o Estado. Um desencadeia o outro. Humanizar nossas relações dentro da escola... isso já fazemos há muito. Mas e a questão política e social que ocorre "ao que nos parece" acima de nós? Pois não é apenas a merenda, existem os que aparecem na escola feridos, sem calçado, sem material (apesar de terem recebido no início do ano) porque o irmão mais velho "tomou" dele e não devolve mais... é um emaranhado de conflitos que torna nosso cotidiano muito mais do que o "ensinar" e não adianta que alguém "de fora" (me refiro a pessoas que apreciam criticar a profissão do professor, dizendo inclusive ser uma função de MENOR RELEVÂNCIA)como se fosse possível relegar a segundo plano a educação de uma nação. É por que certamente estas pessoas estão mesmo envolvidas com outras realidades, onde estas mazelas nem chegam à porta.
    Não podemos fantasiar com relação à teorias seculares. Temos de utilizá-las a nosso favor, mas temos de saber fazê-lo dentro das realidades que temos. Ora... como se pode aplicar um método EUROPEU num país constituído por índios, africanos, latinos, orientais e claro, também os europeu (que não são a supremacia). Dizer que o povo brasileiro é culturalmente pobre é tão igualmente ou mais pobre. Estou escrevendo isso Luzinha, porque li isso recentemente na internet, escrito por pessoas que “se dizem culturalmente melhores”. O povo brasileiro é um dos povos culturalmente mais ricos e diversos do mundo. Isso é apenas um “à parte”. Ditar o que devemos ou não fazer em sala de aula, no dia-a-dia é muito fácil para quem não está lá dentro e vive uma realidade presa ao século XVII, que é basicamente a estrutura das escolas na atualidade. Por não compreenderem nossa realidade, julgam-nos então incompetentes, mas não são capazes de olhar para além de seus umbigos e perceberem que as crianças em sala de aula passam fome, elas vem com fome, elas pedem a cada 5 minutos pela merenda, elas vem com os olhinhos fundos e não conseguem sequer aprender porque lhes falta “força” e “energia” para tanto. Dormem... e, muitas vezes comem a própria borracha, mordiscam o lápis e o caderno... choram porque em casa a mãe ficou doente e vem para nós querendo um abraço. Buscam no professor uma figura forte e que seja uma referência tanto do “saber” como afetiva. Para eles o professor sabe tudo sobre tudo, é uma autoridade, uma quase celebridade. O simples fato de a professora ter uma garrafinha de água igual a do aluno (aconteceu comigo, rsrsr) é motivo de orgulho... percebe a profundidade¿ “Olhaaaaa a garrafinha da professora é igual a minha...(e o sorriso estampou-lhe o rosto como quem gostaria de dizer: a de vocês não e eu sou importante por isso)!!! Então não se pode dizer que não humanizamos as coisas, não solidarizamos, não buscamos a cada dia pela compreensão... isso é o que mais fazemos.
    continua...

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  2. Não consegui postar o restante pela manhâ...rsrsrsrs. Não se procupe, eu sou uma pessoa ZEN e vivo ZEN... rsrsrsrs.
    segue o restante do trecho acima:
    Contudo, não podemos nos esquecer de que os pequenos ali estão para “aprender” e que nossa função é transmitir-lhes bases para que processem o conhecimento de que necessitam para a vida acadêmica. Esta é a nossa função. Então imagine você que somos multi-profissionais de muita relevância e de saberes distintos, tão diversos quanto quanto ou muito mais que um profissional que se dedica à saúde por exemplo. Imagine que o Dr. Que trabalhe em uma área nobre só atenda pessoas com poder aquisitivo alto, possa realmente saber ou opinar sobre Educação das classes menos favorecidas se não vivencia esta realidade.
    Respeitar o ser humano é o que nós professores mais fazemos no cotidiano. Pesquisamos o melhor conteúdo, a melhor forma de fazer com que nossos pequenos, já tão sofridos com suas realidades, tenham ainda a MOTIVAÇÃO para o aprendizado... conquistar os pais para que conosco assumam a tarefa de educar, complementando em casa com leituras, com o interesse pela tarefinha da criança, com elogios ao seu progresso... isso não é compreender¿
    Agora, não podemos ignorar que Morin tem razão no que afirma e que o que na verdade existe por detrás de seu discurso é também a realidade de outros países, uma visão educacional mundial, que refere-se justamente ao que mencionei antes: uma estrutura do século XVII. Ora, se as empresas já entenderam que AS PESSOAS são o seu maior capital e investem nelas de modo mais humanizado e não as enxergam mais como valor contábil, números, máquinas... etc, nossa educação precisa correr atrás do prejuízo e pensar nas mudanças sociais, o mundo evolui e não permanece estagnado. Mentes que permanecem no passado, jamais terão condições de ver o futuro com olhos promissores, mais humanos, mais solidários, mais abertos às questões sociais que estão presentes em todos os espaços, dentro e fora da escola. Ignorar isso é ignorar o ser humano, que não é máquina de aprender, mas um ser independente, que está crescendo, formando seu caráter, sua conduta, sua maneira de ser PESSOA, dignos de muito respeito. Morin está certo. Cabe a nós tirar de tudo o melhor proveito e ver de forma mais ampla que nossa realidade local está inserida na global e que inevitavelmente uma coisa está interlgada a outra. Não penso que ele se dirija diretamente ao profissional da educação quando fala que PRECISAMOS MAIS.... sabemos que precisamos mais, mas como¿ O que fazemos é muitas vezes além de nossas forças.... Já voltou para casa com a sensação de impotência porque deseja mudar esta realidade¿ Quem de nós não gostaria de ver uma destas crianças, ou todas elas, numa posição de sucesso e realizadas na vida¿ Morin acredita no ser humano, e nos motiva a fazê-lo também, porque assim como eu e você bemos as coisas desta forma, nem toda instituição escolar vê, nem todo o profissional vê. Vivemos numa sociedade elitista, separatista, demagoga e hipócrita. Essa é uma realidade e é isso que devemos combater. Possibilitar a estes pequenos desde já que não se contentem só com os conteúdos, mas que aprendam também a ter auto estima, que se sintam capazes de mudar seu status quo... este que a mesma sociedade em que vivem os coloca e os condena. Este é nosso papel!
    Desculpe Luzinha, acho que desabafei também... mas alguém precisa levantar a voz e penso que nós temos esta missão.
    Um Excelente dia para você e parabéns pelo seu blog.
    Beijos
    Dagui

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