domingo, 26 de setembro de 2010

O encontro dos homens e mulheres através do diálogo




Paulo Reglus Neves Freire - 1921 - 1997




O encontro dos homens e mulheres através do Diálogo
Texto do educador Paulo Freire

Não é no silêncio que os homens e mulheres se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão.
Por isto o Diálogo é uma exigência existencial.
Não há Diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens e mulheres.
Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que a infunda.
Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens e mulheres, não me é possível o Diálogo.
Não há, por outro lado, o Diálogo, se não há humildade. A pronúncia do
mundo, com que os homens e mulheres o recriam permanentemente, não
pode ser um ato arrogante.
O Diálogo, como encontro dos homens e mulheres para a tarefa comum de
saber agir, rompe-se, se seus pólos (ou um deles) perdem a humildade.
Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no
outro, nunca em mim?
Como posso dialogar, se me admito como um homem ou mulher diferente,
virtuoso por herança, diante dos outros, meros “isto”, em que não reconheço
outros eu?
Como posso dialogar, se me sinto participante de um “gueto” de homens e
mulheres puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão
fora são “essa gente”, ou são “nativos inferiores”?
Como posso dialogar, se me fecho à contribuição dos outros, que jamais
reconheço, e até me sinto ofendido com ela?
Como posso dialogar, se temo a superação e se, só em pensar nela, sofro e
definho?
A auto-suficiência é incompatível com o Diálogo. Os homens e mulheres que
não têm humildade ou a perdem, não podem aproximar-se do povo. Não
podem ser seus companheiros de pronúncia do mundo. Se alguém não é
capaz de sentir-se e saber-se tão homem ou mulher quanto os outros, é que
lhe falta ainda muito que caminhar, para chegar ao lugar de encontro com
eles. Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios
absolutos. Há homens e mulheres que, em comunhão, buscam saber mais.
Não há também, Diálogo, se não há uma intensa fé nos homens e mulheres.
Fé no seu poder de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação
de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direitos dos homens
e mulheres.

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