Esperar, do verbo ESPERANÇAR!

O filósofo Mário Sergio Cortella (orientando de Paulo Freire, discípulo e "continuador" de sua Saga), afirma:

A decadência (seja ela na sociedade mais ampla, seja em quaisquer instâncias, como família, trabalho, política etc.) principia quando o imperativo ético da ação é substituído pela acomodação e pela espera desalentada, isto é, quando se abre mão do dever que emana da liberdade e exige, para ser exatamente livre, uma intervenção consciente. Isso é lembrado em razão de um sorrateiro entorpecimento que acomete a muitos, aniquilando pouco a pouco a capacidade de reagir e de apontar como fora de lugar muitas coisas que parecem encaixar-se, sem arestas, na vida cotidiana e que precisam ser fortemente rejeitadas, de modo que esta não dê lugar ao abatimento que apenas aguarda, em vez de buscar provocar resultados.

Pode-se argumentar que, felizmente ainda há muita esperança. Mas, como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos neste momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações, as pessoas acham que não há mais jeito, que não há alternativa, que a vida é assim mesmo... Violência? O que posso fazer? Espero que termine... Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam... Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam... Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem... Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças.

Livro: Provocações filosóficas "Não nascemos prontos". Retirado do Texto: A Resignação como cumplicidade.

Penso, esperançosamente, que este verbo emana de nossa inquietude mais humana.

Esperançar é, como diz Cortella, juntar-se a outros que desejam fazer de outro modo. Já que aquilo que fizeram foi avaliado e entendido que precisa ser reorientado, aprimorado, visto por outros prismas...É certo que, tomar essa atitude é construir novos jeitos de caminhar, trilhar, conhecer as pedras, é se levantar, ir atrás, se colocar diante dos outros, do Outro, sem reservas... sem medos que as críticas afugentem seus sonhos. Se os sonhos fugiram era porque você não os tinha de verdade...Eram aparências, ilusões, você nem conseguia "tocá-los", sonhá-los, abrigá-los em seu coração.

Esperançar não é sinônimo de "deixar a vida me levar"...

Esperança do verbo esperar, nos imobiliza, a gente espera: que dê certo, que funcione, que abra, que aconteça, que ajude, que aguente... que mude etc.

Mulheres e homens de seu tempo são do verbo esperançar. Que "mandam ver!!" São presentes e presente para os outros, não são ausentes ( "os ausentes nunca têm razão"), estão ligados, criam e recriam a história, percorrem caminhos que rompem as trancas da prisão cultural, política e social. O "preço"? É incalculável! As vezes a própria vida... é verdade!

Pensei em algumas e alguns... Pensei em nós, pensei na GENTE!

Vamos conjugar a vida? Vamos conjugar a nossa ESPERA INQUIETA?

eu	esperanço
tu	esperanças
ele/ela	esperança
nós	esperançamos
vós	esperançais
eles/elas	esperançam
Um cheiro da Luzinha pra vocês, queridos e queridas! Vamos ESPERANÇAR! Luciana.